Revisitando o Acidente de Seveso

 


As Crianças de Seveso

O Acidente

 A 10 de julho de 1976, em Seveso, uma província de Milão, na Itália, um vazamento de dioxina causou a contaminação de 320 hectares, atingindo milhares de pessoas e animais. Foi uma das maiores catástrofes ecológicas do mundo.

Por volta das 12h30 deste dia do acidente, ocorreu a ruptura do disco de segurança de um reator, que resultou na emissão para a atmosfera de uma grande nuvem tóxica.

O reator fazia parte do processo de fabricação de TCP (triclorofenol) e a nuvem tóxica formada continha vários componentes entre eles o próprio TCP, etilenoglicol e
2,3,7,8-tetraclorodibenzoparadioxina (TCDD). A nuvem se espalhou numa grande área, contaminando pessoas, animais e o solo na vizinhança da unidade industrial.

A planta operava em regime de batelada e, no momento do acidente, encontrava-se paralisada para o final de semana. No entanto, o reator continha material a uma elevada temperatura. Provavelmente, a presença de etilenoglicol com hidróxido de sódio causou uma reação exotérmica descontrolada, fazendo com que a pressão interna do vaso excedesse a pressão de ruptura do disco de segurança, causando a emissão. A reação ocorrida, associada a uma temperatura entre 400 e 500 ºC, contribuiu para a formação do TCDD.

A Fábrica ICMESA


O reator não possuía um sistema automático de resfriamento e como a fábrica se encontrava com poucos funcionários, já que paralisaria suas operações no final de semana, não foram desencadeadas ações de resfriamento manual do reator para minimizar a reação ocorrida. Desta forma, a emissão ocorreu durante cerca de 20 minutos, até que um operador conseguisse paralisar o vazamento.

Repentinamente, pássaros atingidos pela nuvem tóxica começaram a cair do céu e crianças foram hospitalizadas com diarreia, enjoos e irritação na pele, toda a vegetação nas proximidades da planta morreu de imediato devido ao contato com compostos clorados. No total, 1.807 hectares foram afetados. A região denominada Zona A, com uma área de 108 hectares possuía uma alta concentração da dioxina TCDD (240 µg/m²).


Animais Mortos em Seveso

A fábrica não dispunha de sistema de advertência nem planos de alarme à população. O prefeito local, avisado do acidente com 27 horas de atraso, não foi informado de que se tratava de um vazamento de dioxina.

Nove dias após o acidente, mencionou-se, pela primeira vez, a palavra "dioxina".

A fábrica só foi interditada quando a nuvem havia atingido cerca de 30 mil moradores da redondeza. Uma área de 1.800 hectares de terra estava contaminada e 75 mil animais morreram ou tiveram que ser abatidos.

O solo contaminado foi removido e lacrado em duas bacias de concreto do tamanho de um estádio de futebol. Somente o conteúdo do reator foi guardado em 41 galões para tratamento final.

Foram evacuadas 736 pessoas da região, sendo que 511 retornaram para as suas casas no final de 1977, mas as que moravam na Zona A perderam suas residências, em função do nível de contaminação ainda existente nesta área, a qual permaneceu isolada por muitos anos. Toda a vegetação e solo contaminados foram removidos e as edificações tiveram que ser descontaminadas. Os custos estimados na operação de evacuação das pessoas e na remediação das áreas contaminadas foram da ordem de US$ 10 milhões.


Trabalhadores em Seveso 1976

Travessia de fronteira

Em setembro de 1982, um caminhão atravessou despercebido a fronteira entre Itália e França com a perigosa carga, identificada apenas com a sigla TCDD, aparentemente desconhecida da polícia alfandegária.

Os documentos apresentados pelo motorista não mencionavam a palavra dioxina nem a cidade de origem do produto – Seveso. A carga ainda foi vista em Sant Quentin, ao norte de Paris, antes de sumir sem deixar rastro.

Isenção de responsabilidade

O conglomerado químico suíço Hoffmann-La Roche fora responsável pelo transporte, já que o veneno vinha de uma de suas filiais. Mas a empresa suíça encarregara a Mannesmann italiana para dar um tratamento final à perigosa substância. A Mannesmann cobrou 180 mil marcos pelo serviço, que repassou a duas firmas fantasma, chamadas Vadir e Spelidec.

Depois do sumiço, todos os envolvidos tentaram se isentar da responsabilidade. Começou um jogo de empurra entre a Hoffmann-La Roche, a Mannesmann e a Spelidec. O suposto dono da transportadora Spelidec, Bernard Paringaux, garantiu à La Roche, em documento autenticado em cartório, que o veneno fora depositado legalmente, sem dizer aonde. Ele acabou sendo preso, mas manteve o silêncio. A Hoffmann-La Roche e a Mannesmann também.

Durante oito meses, os galões desaparecidos foram procurados em toda a Europa. A participação de detetives e serviços secretos na busca aumentou a pressão sobre as firmas envolvidas no escândalo. Muitos médicos passaram a boicotar produtos farmacêuticos da La Roche.

Esconderijo do veneno

Finalmente, em maio de 1983, Bernard Paringaux reveleu o esconderijo do veneno. Ele depositara os barris de dioxina num sítio, a 60 metros de uma escola, num vilarejo de 300 moradores, no norte da França. Nove anos depois da catástrofe, o lixo tóxico foi incinerado em Basiléia, na Suíça.

O número de vítimas de doenças cardíacas e vasculares em Seveso aumentou drasticamente, as casos de morte por leucemia duplicaram e triplicaram-se as ocorrências de tumores cerebrais. Os casos de câncer do fígado e da vesícula multiplicaram-se por dez vezes e aumentou o número de mortes em decorrência de doenças da pele.

Falta de Investimentos na Segurança das Instalações da Fábrica

Como demonstrou a Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o desastre, o acidente esteve diretamente relacionado com a falta de investimentos na segurança das instalações da fábrica. A Roche estava, todavia, a par dos riscos da produção de triclorofenol que já tinham surgido em casos anteriores de acidentes industriais.

 

Vídeo no YouTube sobre o acidente:

https://www.youtube.com/watch?v=Zk2_mLcJ6jY

https://www.youtube.com/watch?v=kcFtRM7uK9I

 

 Referências:

http://inspecaoequipto.blogspot.com/2014/06/caso-074-o-legado-de-seveso-italia-1976.html

https://journals.openedition.org/laboreal/8938#ftn3

https://www.dw.com/pt-br/1976-explos%C3%A3o-provoca-vazamento-de-dioxina-em-seveso/a-871315

https://cetesb.sp.gov.br/analise-risco-tecnologico/grandes-acidentes/seveso/

https://nossofuturoroubado.com.br/seveso-lembra-catastrofe-25-anos-depois/

 

Saudações.

 

 

Recomendo que a Gestão dos Riscos seja vista como um processo de construção social, para direcionar os processos decisórios e resolução de problemas relevantes, para a continuidade e término das operações da organização.

 A organização pode ser afetada de forma positiva ou negativa por eventos variados, e com a Ergonomia, a Engenharia de Segurança e a Engenharia de Resiliência podemos avaliar a multicasualidade destes eventos, e verificar como as questões sociais, culturais, econômicas, organizacionais, técnicas, humanas e outras afetam a organização. 

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 Artigo:

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 https://linktr.ee/wrb

 Saudações.


 





Comentários

  1. Legal trazer estes acidentes clássicos ao debate Washington.

    Segue um reportagem da época dos debates sobre os abortos.

    https://www.nytimes.com/1976/08/09/archives/abortion-debate-heats-up-in-italy-chemical-peril-giving-new-impetus.html

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado Gustavo Duca, li a reportagem, mais questões críticas para este acidente. Realmente tem que se divulgar e criar consciência da prevenção e minimização destes eventos negativos.
      Washington Barbosa

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