Revisitando o Acidente de Seveso
As
Crianças de Seveso
O Acidente
Por volta das 12h30 deste dia do
acidente, ocorreu a ruptura do disco de segurança de um reator, que resultou na
emissão para a atmosfera de uma grande nuvem tóxica.
O reator fazia parte do processo
de fabricação de TCP (triclorofenol) e a nuvem tóxica formada continha vários
componentes entre eles o próprio TCP, etilenoglicol e
2,3,7,8-tetraclorodibenzoparadioxina (TCDD). A nuvem se espalhou numa grande área,
contaminando pessoas, animais e o solo na vizinhança da unidade industrial.
A planta operava em regime de
batelada e, no momento do acidente, encontrava-se paralisada para o final de
semana. No entanto, o reator continha material a uma elevada temperatura.
Provavelmente, a presença de etilenoglicol com hidróxido de sódio causou uma
reação exotérmica descontrolada, fazendo com que a pressão interna do vaso
excedesse a pressão de ruptura do disco de segurança, causando a emissão. A
reação ocorrida, associada a uma temperatura entre 400 e 500 ºC, contribuiu
para a formação do TCDD.
A Fábrica ICMESA
O reator não possuía um sistema
automático de resfriamento e como a fábrica se encontrava com poucos
funcionários, já que paralisaria suas operações no final de semana, não foram
desencadeadas ações de resfriamento manual do reator para minimizar a reação
ocorrida. Desta forma, a emissão ocorreu durante cerca de 20 minutos, até que
um operador conseguisse paralisar o vazamento.
Repentinamente, pássaros
atingidos pela nuvem tóxica começaram a cair do céu e crianças foram
hospitalizadas com diarreia, enjoos e irritação na pele, toda a
vegetação nas proximidades da planta morreu de imediato devido ao contato com
compostos clorados. No total, 1.807 hectares foram afetados. A região
denominada Zona A, com uma área de 108 hectares possuía uma alta concentração
da dioxina TCDD (240 µg/m²).
A fábrica não dispunha de
sistema de advertência nem planos de alarme à população. O prefeito local,
avisado do acidente com 27 horas de atraso, não foi informado de que se tratava
de um vazamento de dioxina.
Nove dias após o acidente,
mencionou-se, pela primeira vez, a palavra "dioxina".
A fábrica só foi interditada
quando a nuvem havia atingido cerca de 30 mil moradores da redondeza. Uma área
de 1.800 hectares de terra estava contaminada e 75 mil animais morreram ou
tiveram que ser abatidos.
O solo contaminado foi
removido e lacrado em duas bacias de concreto do tamanho de um estádio de
futebol. Somente o conteúdo do reator foi guardado em 41 galões para tratamento
final.
Travessia
de fronteira
Em setembro de 1982, um caminhão
atravessou despercebido a fronteira entre Itália e França com a perigosa carga,
identificada apenas com a sigla TCDD, aparentemente desconhecida da polícia
alfandegária.
Os documentos apresentados pelo
motorista não mencionavam a palavra dioxina nem a cidade de origem do produto –
Seveso. A carga ainda foi vista em Sant Quentin, ao norte de Paris, antes de
sumir sem deixar rastro.
Isenção de responsabilidade
O conglomerado químico suíço
Hoffmann-La Roche fora responsável pelo transporte, já que o veneno vinha de
uma de suas filiais. Mas a empresa suíça encarregara a Mannesmann italiana para
dar um tratamento final à perigosa substância. A Mannesmann cobrou 180 mil
marcos pelo serviço, que repassou a duas firmas fantasma, chamadas Vadir e
Spelidec.
Depois do sumiço, todos os
envolvidos tentaram se isentar da responsabilidade. Começou um jogo de empurra
entre a Hoffmann-La Roche, a Mannesmann e a Spelidec. O suposto dono da
transportadora Spelidec, Bernard Paringaux, garantiu à La Roche, em documento
autenticado em cartório, que o veneno fora depositado legalmente, sem dizer
aonde. Ele acabou sendo preso, mas manteve o silêncio. A Hoffmann-La Roche e a
Mannesmann também.
Durante oito meses, os galões
desaparecidos foram procurados em toda a Europa. A participação de detetives e
serviços secretos na busca aumentou a pressão sobre as firmas envolvidas no
escândalo. Muitos médicos passaram a boicotar produtos farmacêuticos da La
Roche.
Esconderijo do veneno
Finalmente, em maio de 1983,
Bernard Paringaux reveleu o esconderijo do veneno. Ele depositara os barris de
dioxina num sítio, a 60 metros de uma escola, num vilarejo de 300 moradores, no
norte da França. Nove anos depois da catástrofe, o lixo tóxico foi incinerado
em Basiléia, na Suíça.
O número de vítimas de doenças
cardíacas e vasculares em Seveso aumentou drasticamente, as casos de morte por
leucemia duplicaram e triplicaram-se as ocorrências de tumores cerebrais. Os
casos de câncer do fígado e da vesícula multiplicaram-se por dez vezes e
aumentou o número de mortes em decorrência de doenças da pele.
Falta de Investimentos na Segurança das Instalações da Fábrica
Como
demonstrou a Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o desastre, o acidente
esteve diretamente relacionado com a falta de investimentos na segurança das
instalações da fábrica. A Roche estava, todavia, a par dos riscos da produção
de triclorofenol que já tinham surgido em casos anteriores de acidentes
industriais.
Vídeo no YouTube sobre o acidente:
https://www.youtube.com/watch?v=Zk2_mLcJ6jY
https://www.youtube.com/watch?v=kcFtRM7uK9I
Referências:
http://inspecaoequipto.blogspot.com/2014/06/caso-074-o-legado-de-seveso-italia-1976.html
https://journals.openedition.org/laboreal/8938#ftn3
https://www.dw.com/pt-br/1976-explos%C3%A3o-provoca-vazamento-de-dioxina-em-seveso/a-871315
https://cetesb.sp.gov.br/analise-risco-tecnologico/grandes-acidentes/seveso/
https://nossofuturoroubado.com.br/seveso-lembra-catastrofe-25-anos-depois/
Saudações.
Recomendo que a Gestão dos Riscos seja vista como um
processo de construção social, para direcionar os processos decisórios e
resolução de problemas relevantes, para a continuidade e término das operações
da organização.
A organização pode ser afetada de forma positiva ou negativa por eventos variados, e com a Ergonomia, a Engenharia de Segurança e a Engenharia de Resiliência podemos avaliar a multicasualidade destes eventos, e verificar como as questões sociais, culturais, econômicas, organizacionais, técnicas, humanas e outras afetam a organização.
A Gestão de Riscos deve ser dinâmica, e com participação de todas as partes da organização.
Também é preciso tirar o foco no erro humano, buscar aprimorar as estruturas de suporte as tomadas de decisões e dar as condições adequadas para o desenvolvimento seguro das atividades.
Proponho a Segurança Proativa que analisa a estrutura da empresa, ouve os colaboradores em todos os níveis hierarquicos, e com um trabalho de equipe propõe o aprimoramento de questões chaves para a organização.
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Artigo:
Vídeo:
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Saudações.
Legal trazer estes acidentes clássicos ao debate Washington.
ResponderExcluirSegue um reportagem da época dos debates sobre os abortos.
https://www.nytimes.com/1976/08/09/archives/abortion-debate-heats-up-in-italy-chemical-peril-giving-new-impetus.html
Obrigado Gustavo Duca, li a reportagem, mais questões críticas para este acidente. Realmente tem que se divulgar e criar consciência da prevenção e minimização destes eventos negativos.
ExcluirWashington Barbosa