Prevenir Tragédias - Framework da Segurança Proativa, Riscos e Emergências e MeSPRE
INTRODUÇÃO
Vivemos em um ambiente dinâmico e complexo, a gestão da segurança é uma importante ferramenta para gerenciar este ambiente. É recomendável que organizações que buscam atingir seus objetivos incorporem a gestão da segurança ao longo da sua vida e atividades, incluindo estratégias, decisões, operações, processos, funções, projetos, produtos, serviços e ativos.
A gestão da segurança pode ser desdobrada em duas funções
auxiliares: riscos e as emergências. A primeira visa controlar fatores latentes
e a segunda, as manifestações dos riscos em fatos reais. Portanto, há duas
formas complementares de ação: a preventiva e a corretiva.
O uso da gestão de riscos, avaliação de riscos, análise de riscos
surgiu de maneira mais ou menos independente em diversas áreas: Indústria
Nuclear, Seguros, Indústria do Petróleo, Segurança no Trabalho, Segurança
Corporativa, Sistema Financeiro, Segurança da Informação, Segurança dos
Produtos e Processos.
A
palavra risco é utilizada em muitas áreas e com vários significados, como a
matemática, a economia, a engenharia e o campo da saúde pública. (PORTO, 2000).
Motivação
Apesar dos esforços desenvolvidos
por empresas, organizações, setores privados e do governo, uma série de eventos
negativos maiores e fatais tem acontecido, como os casos da explosão do ônibus espacial
Challenger, do acidente nuclear em Fukushima, da Refinaria Texas City e
da explosão no Porto de Beirute, que serão tratados neste trabalho.
Turner
(1994) realizou análises de acidentes técnicos graves durante um longo período
e chegou à conclusão de que aproximadamente 20 a 30% das causas dos acidentes
eram de natureza técnica com 70 a 80% envolvendo fatores sociais,
administrativos ou gerenciais.
Uma série de estudos sobre acidentes aéreos e
marítimos, em Qureshi (2008), mostraram os fatores humanos e organizacionais
como os principais contribuintes para acidentes e incidentes. Uma análise dos
principais acidentes aéreos e marítimos na América do Norte durante 1996-2006 e
concluíram que a proporção de fatores causais e contribuintes relacionados a
questões organizacionais excede aqueles devidos a erro humano. Por exemplo, os
fatores causais e contributivos combinados de acidentes de aviação nos EUA
mostraram: 48% relacionados a fatores organizacionais, 37% a fatores humanos,
12% a equipamentos e 3% a outras causas; e a análise dos acidentes marítimos
classificou os fatores causais e contributivos como: 53% devido a fatores
organizacionais, 24-29% como erro humano, 10-19% para falhas de equipamento e
2-4% como outras causas.
Por que os eventos negativos maiores e fatais acontecem, conforme apresentado anteriormente?
São eventos complexos, e que necessitam tanto de
uma abordagem socio técnica como uma conceituação operante destes sistemas.
Verifica-se, conforme Llory (2014), por mais que
sejam diversas as causas desses acidentes, todos eles têm uma dimensão organizacional,
ou seja, as suas causas profundas devem ser buscadas para verificar o que
ocasionou o acidente. Eles confirmam, também, que a não ocorrência de um
acidente grave e as boas performances no
quotidiano podem esconder uma questão importante, pois uma catástrofe pode
estar prestes a acontecer.
Construção social do risco, questão básica para o entendimento da gestão de riscos, e para a prevenção de eventos negativos maiores e fatais
Deve-se aceitar que o risco é derivado
da organização, pressupostos institucionais e processos; isso é, o risco é
socialmente construído.
E para avaliá-lo são necessários
métodos adequados qualitativos para a questão social.
Deve-se ir além da análise dos fatores
humanos e técnicos, do atendimento à legislação e as boas práticas para
aprimorar a gestão de riscos.
Ergonomia e Sociotécnica
A evolução da ergonomia mostra que seu
foco mudou do posto de trabalho para o sistema organizacional.
Segundo Hendrick (1993), a evolução da prática da ergonomia
pode ser diferenciada em quatro fases, de acordo com a tecnologia enfocada.
Analisando-se cada uma delas, nota-se que a adaptação do posto vai perdendo a
força para a qualidade do processo, da organização e da qualidade de vida como
um todo.
A 1a fase, denominada ergonomia
tradicional ou de hardware, desenvolvida durante a 2a Guerra Mundial,
representa o início da ergonomia ou “human factors” como ciência prática
formal. De início, concentrou o interesse no estudo das características
(capacidades, limites) físicas e perceptuais do ser humano, e a aplicação dos
dados no design de controles, displays e arranjos de interesse militar. No
início de sua aplicação na área civil, a ergonomia estava mais voltada para as
questões físicas do ambiente de trabalho e a questões fisiológicas e
biomecânicas implicadas na interação dos sistemas humano-máquina. Denominada de
ergonomia física, sua aplicação resulta em incremento da segurança, eficiência
e conforto do sistema. Ainda é o maior campo de atuação de muitos ergonomistas.
A partir da década de 1970, tem impulso a
2a fase da ergonomia ou ergonomia do meio ambiente que trata das questões
ambientais (i.e. ruído, vibrações, temperatura, iluminação, aerodispersóides)
que interferem no trabalho. Ela se fortaleceu em função do interesse de se
compreender melhor a relação do ser humano com seu meio ambiente, quer natural
ou construído. As questões ecológicas, bastante em voga recentemente e tão
importantes para a restauração do equilíbrio do planeta, e com isto, as
exigências das Normas (i.e. ISO 14000, 18000), ampliaram a atuação de
ergonomistas nesta linha de abordagem.
Com o advento da informática, a partir da década de 1980,
estabelece-se a 3a fase da ergonomia, denominada ergonomia cognitiva. Também
conhecida como ergonomia de software, lida principalmente com as questões de
processamento de informação. Essa modalidade é focada na interface da interação
entre o homem e a máquina, que deixa de ser como na fase tradicional
(antropométrica, biomecânica e fisiológica): o operador não manuseia mais o
produto, mas comanda uma máquina que opera sobre o produto. A tecnologia da
informação passa a ser uma extensão do cérebro e as interfaces para a operação
devem levar em conta fatores cognitivos para facilitar o comando.
A macroergonomia, considerada a 4a fase
da ergonomia, diz respeito à ergonomia enfocada dentro de um contexto mais
amplo, deixando de se restringir a questões pontuais (como o posto ou o
ambiente físico de trabalho) para atuar, também, no processo organizacional. O
ponto de vista das primeiras três fases é o operador, ou grupos de operadores,
dentro de subsistemas de um conjunto maior que é a organização em que se
inserem. A visão macro da ergonomia atual focaliza o ser humano, o processo de
trabalho e a organização, o ambiente e a máquina como um todo de um sistema
mais amplo. Conceitualmente, a macroergonomia é uma abordagem sociotécnica
porque lida com quatro subsistemas: o tecnológico, o pessoal, o do trabalho e o
do ambiente externo, que consiste na estrutura organizacional e processos. A
sua abordagem é ao mesmo tempo topdown (porque adota uma abordagem estratégia),
bottom-up (porque a abordagem é participativa) e middle-out (porque foca no
processo) (Hendrick e Kleiner, 2000). Diferencia-se das anteriores por priorizar
o processo participativo envolvendo administração de recursos, trabalho em
equipe, jornada e projeto de trabalho, cooperação e rompimento de paradigmas, o
que garante intervenções ergonômicas com melhores resultados, reduzindo o
índice de erros e gerando maior aceitação e colaboração por parte dos envolvidos.
- as áreas de projeto, operações, qualidade, ambiental, responsabilidade social, produtividade, lucratividade, governança, auditorias, medicina/saúde, ergonomia e outras áreas afins.
Estas áreas estão representadas nas estruturas da organização, nos níveis estratégicos, táticos e operacionais. Nos processos decisórios nestes níveis hierárquicos, as diversas óticas destas áreas influenciam nas decisões tomadas.
Mais informações do Modelo da Visão Sistêmica da Área da Segurança com as outras Áreas da Organização em:
Centro de Estudos Prevenir Tragédias, através da Segurança Proativa e Gestão de Riscos, mais informações, vídeos e materiais complementares, acessar o link no final desta postagem.
Informe na Revista Proteção sobre o MESPRE e o curso on-line e gratuito Prevenir Tragédias:
Saudações!
Washington Barbosa
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